📍 León, Espanha 🇪🇸
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Quando pisamos em León, na Espanha, a primeira coisa que senti foi uma admiração profunda. As ruas me pareciam feitas com carinho, dava pra sentir que pensaram antes mesmo de construir um simples bueiro. As portas tinham enfeites curiosos, as varandas tinham cada uma a sua forma, e até mesmo as fechaduras carregavam histórias.
A Catedral de León, gótica, sugou meu olhar de uma forma tão forte que eu não conseguia parar de encarar. Nem piscava. Tentava entender os símbolos, adivinhar as formas das estátuas, as maçanetas, os vitrais… Nem sequer sentia o tempo passar.
Minha cabeça começou a tentar entender como fomos parar disso aqui diante de mim para as construções que fazemos hoje. Perguntas ficam ruminando na minha cabeça sem nenhuma resposta no horizonte.
Quando foi que paramos de ter carinho nos detalhes? De ter detalhes?
Em que momento paramos de ter tempo pra prestar atenção? Ou de ter detalhes para ter no que prestar atenção?
Quando foi que a pressa nos engoliu? Pra construir e pra admirar?
Que história estamos contando com as construções que fazemos hoje?
Quando foi que o liso tomou conta? O espelhado? O que o moderno diz sobre nós?
Qual prédio hoje seria tombado como patrimônio histórico daqui umas tantas décadas sem ser por motivo de "maior do mundo, mais habitantes, melhor sei-lá-das-quantas"?



Numa obsessão por utilidade, por funcionalidade, sinto que tiramos a magia do nosso dia a dia. Não tem mais o porquê ficar horas e horas admirando um prédio. Uma época que a gente podia ficar anos construindo e horas observando.
Uma voz na minha cabeça sussurra: Isso não é n-a-d-a produtivo. Sem inventar moda, sabe? Imagina quanto tempo isso não demoraria para ser construído? E o preço que ficaria? Melhor não, eu ein.
Ou até mesmo os belíssimos templos de terra, moldados com as mãos de dezenas de pessoas na Bolívia. As que foram construídas com pedaços de cactos da região em San Pedro do Atacama no Chile e ainda levam triângulo na decoração em devoção aos vulcões. Ou a do México com o chão forrado de grama e sem cadeiras, para se sentar no chão mesmo porque faz parte do divino, e tantas outras. Essas construções-templo com história, que carregam significados, seja onde estiverem.



Tenho aflição das casas de consultório. Aquelas quadradas, brancas, com mais algumas unidades idênticas ao lado dela. Retas, lisas. Branco, cores claras, móveis encaixados milimetricamente, cada lugar otimizado e de preferência com múltiplas funções.
Eu sei que pode parecer ironia uma mochileira falar isso, afinal, eu moro numa mochila e tenho poucos itens. É fato. Poderiam até falar que eu prego uma vida minimalista, e sim, eu acho importante repensar o que carregamos e compramos. Mas não precisa ser tudo de cores neutras e que combinem entre si. Estampas e roupas coloridas trazem vida, mostra um gostinho da sua personalidade.
Nisso, o mundo vai ficando cada vez mais igual, mais uniforme, mais sem sabor. Estamos ficando neutros e lisos das grandes construções, casas, e até roupas. O que será que vem depois?
Ou melhor, o que será que veio primeiro: a falta de detalhes nas construções e logo a falta de cores nas roupas, casas e até cores de carros? Ou o contrário? O que isso diz sobre nossa era? O que será que iremos construir daqui pra frente com a mentalidade da “era dos robôs e Inteligências Artificiais”? Curiosa.
Pode ser que eu e uma parcela da população não nos conectemos com essa nova estética aesthetic que vivemos, mas faça muito sentido pra outras. Não sei. Só sei que essa simples maçaneta da foto debaixo diz muito: um detalhe lindíssimo que nem sequer foi feito para ser visto, que fica escondido a maior parte do tempo.
Vou adorar te ouvir também, me conta o que sente ou acha disso! Faz de conta que estamos num bar e bora pra conversa de boteco:
Tradução livre | "Quando humanos prestavam atenção nos detalhes e havia tempo para deixar tudo bonito"
“As coisas que levam a nada têm grande importância”
Manoel de Barros
Cholet
O estilo arquitetônico Cholet, do movimento Neo-Andino, se encaixa demais nesse Cartão Postal. Um arquiteto boliviano constrói prédios com cores, formatos, padrões e quase como uma estampa de malha andina mesmo. Tem personalidade, carrega história andina, carrega simbolismos e, de quebra, deixa uma simples caminhada na rua um evento por si só.
Toma aqui um pequeno acervo para você se deliciar:
Primeira mudança de país
Portugal → Espanha
Pra minha surpresa, achei as cidades portuguesas que passamos muito mais silenciosas que o esperado, como falei nessa news aqui. As ruas da Espanha tem mais som. Aqui as pessoas falam mais alto, dão mais gargalhadas em público, até sorriem mais para desconhecidos (como eu). Ah, e claro, estão amontoados nos bares pra aproveitar ao máximo o verão.
Os azulejos já não predominam, o que de certa forma é triste porque os azulejos me lembram as casas das minhas avós.
Por algumas horas, vi cartazes na língua galega em Vigo e achei muito fofa. Uma mistura de português com espanhol, onde algumas palavras têm o "J" trocado pelo "X". Tem noção do quão gostoso é falar xuventud? Xornal? Xirafa? Xamais? Xúpiter? Xoaniña? Xenerosidad? Xurado? Xema de ovo???
Até agora, o espanhol me lembra tanto a América Latina que mesmo nunca tendo nem pisado nessa região, tem uma grande parte do meu coração que se sente em casa. Sim, mais do que Portugal, mesmo tendo português, açaí, guaraná e coxinha do lado de lá, tem algo aqui que me abraça mais. E confesso que estava precisando disso. Sim, logo no começo da viagem, socuero socorro. Como vou sobreviver até a China??? ← drama latino, relevem.
Com amor, vidrada nos detalhes e querendo aprender a entalhar madeira,
Quem escreveu esse trem aqui?
Oi, sou a Lanna, jornalista por formação, comunicadora desde sempre. Viciada em chocolate, macarrão e curry. Viajante desde 2017 e escritora desde que aprendi a rabiscar cadernos. Eu não dispenso uma boa conversa com desconhecido, e adoro questionar as pessoas como elas enxergam a vida.
Gosto de escrevinhar histórias que vivi, senti, e ouvi por esse mundão véio sem porteiras. Agora, numa jornada -insana- de Portugal a China por terra. Bora nessa? Se achegue mais, puxe uma cadeira. Fica o convite para responder essa história e me contar sobre você ✉️
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Oi Lanna, sou goiano, moro em Aracaju e sou um dos seus fiéis companheiros virtuais de viagem. A nova web série da rota da seda está maravilhosa e já coloquei Leon na minha listinha. Um grande abraço para você e Richard.
Sou apaixonada nesse tipo de arquitetura. Gosto de detalhes, de formas exageradas, relevos, florais, tudo! Queria que existissem mais construções assim atualmente. Deixam a vida mais interessante ♥️